
Neste domingo (2), ao meio dia, Zeca Camargo recebe no #BrasilCozinhaComigo, com transmissão ao vivo no Youtube de Nossa (coloque já o lembrete!), a cantora Fafá de Belém para falar sobre o Círio de Nazaré, as belezas da capital paraense, terra da artista, e a gastronomia local.
Um dos principais atrativos de Belém é, sem dúvida, sua culinária exótica e ao mesmo tempo versátil. E boa parte dessa tradição é alimentada pela herança culinária das boieiras, mulheres que servem, no mercado Ver-o-Peso, pratos regionais — ou a boia, que deu origem ao nome.
Para quem cresceu nessa atmosfera, cozinhar é mais do que simplesmente oferecer uma refeição, é algo nato que atravessa gerações servindo afeto.
Preparo tudo com muito carinho, quero agradar a todos que sentam nas minhas mesas. Quando a gente faz tudo com amor, todo mundo gosta"
Metade desse tempo ela tem a companhia das filhas Eliana, 52, e Maria de Fátima, 53, que têm boxes próprios na feira — Eliana, inclusive, preparou o Tacacá Chique junto com Zeca Camargo na estreia do #BrasilCozinhaComigo:
Os espaços da família de dona Osvaldina ficam na área mais disputada do complexo, de frente para o rio. Durante a semana, a maioria dos frequentadores é de trabalhadores do comércio e da própria feira. Nos finais de semana pré-pandemia, casais, famílias e turistas eram o público principal na disputa por um lugar.
Do preconceito ao reconhecimento
Quem eia hoje pelas mesas vê o nome boieira grafado com orgulho em banners e aventais. Mas nem sempre foi assim.
Dona Osvaldina conta que o título não era adotado pelas cozinheiras. A maioria nem gostava de ser chamada assim por medo de preconceito. "Muitas tinham vergonha de dizer que eram boieiras".
O reconhecimento do trabalho só veio em 2010, pelas mãos do chef Paulo Martins, que provou a receita do peixe frito e a convidou para reunir um grupo de cozinheiras para um festival, assim nasceu o Ver-a-Boia.
Se não fosse pelo chef, nós não seríamos reconhecidas e não teríamos participado de tantos festivais pelo Brasil e até fora"
Martins foi um dos grandes incentivadores da divulgação da culinária paraense e faleceu no mesmo ano em que criou o festival.
Com a visibilidade, surgiram convites para eventos do gênero, como jantares especiais. "Viajamos bastante, por aqui e até para Portugal. Tivemos oportunidade de fazer intercâmbio com chefs ses, portugueses, de várias nacionalidades. Todos dizem que o tempero que tem aqui não existe em lugar nenhum", conta Osvaldina.
O coração de Belém
Hoje, a área de alimentação do Ver-o-Peso transformou-se em um tradicional ponto de encontro para saborear um peixe frito com açaí, prato típico, curtindo a paisagem.
Assim Nossa encontrou o motorista Lucas Dias, de 27 anos, e a professora Ludmilla Mello, 33. Clientes antigos da família Ferreira, eles degustavam o pirarucu ao molho de camarão. "Já tive a oportunidade de provar a culinária de vários lugares, mas não tem sabor igual ao daqui, ainda mais com esse ventinho de frente para o rio", avaliou o motorista.
A professora acredita que o hábito de frequentar as boieiras já faz parte da cultura paraense. "Eu costumo dizer que o Ver-o-Peso é um lugar único, até pela proximidade que o nosso povo gosta, mesmo tomando todos os cuidados por conta da pandemia. Você vê que é calor, mas ninguém arreda o pé daqui, a comida é boa, a bebida é gelada".
A explicação também está na grandiosidade dos números e na rotina de abastecimento diário da feira. O complexo tem cerca de 30 mil metros quadrados, onde estão distribuídas 12 atividades econômicas.
Além da feira livre, considerada a maior a América Latina, há ainda o Mercado de Carne e Mercado de Peixe. Lá se encontra de tudo. Só de pescado são cerca de 40 tipos, trazidos de barco ainda na madrugada. Entre eles estão dourada, pescada, filhote e pirarucu, principais ingredientes das receitas da família Ferreira. De açaí in natura, são cerca de 30 toneladas diariamente.
Um eio pelo Mercado Ver-o-Peso
O complexo tem quase 400 anos e é tombado pelo patrimônio histórico, juntamente com outras ruas históricas ao redor.
A reinvenção das boieiras
A pandemia também afetou as cozinheiras, tanto pela questão da saúde quanto pela econômica, com fechamento das barracas, única fonte de renda delas. Eliana teve a covid-19, no final de abril.
Foi preciso se reinventar para atravessar esse momento. "Entre as boieiras cada uma procurou uma atividade. Eu coloquei em prática a ideia que tinha do delivery e foi o que nos salvou. Agora vamos continuar com ele", conta Eliana, que é presidente da Associação Ver-a-Boia, criada há três anos.
E a tradição já está na terceira geração da família Ferreira. Uma das netas, Deise, de 28 anos, já acompanha a mãe desde o ano ado. "Ela já participou de eventos e jantares que fomos, é mais uma da família que segue esse caminho", orgulha-se Maria de Fátima.
Para dona Osvaldina a sensação de trabalhar com o que ama é ainda maior por ter reado a tradição para as outras gerações e ter conseguido criar os filhos, 16 netos e 16 bisnetos com o fruto do trabalho.
Hoje eu me sinto muito feliz e vitoriosa. Tenho orgulho das minhas filhas. Se elas aprenderam alguma coisa foi aqui na feira. Tudo graças à culinária paraense".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, , ler e comentar.
Só s do UOL podem comentar
Ainda não é ? Assine já.
Se você já é do UOL, faça seu .
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.